Ócio Zero

Era uma vez, em Dominante, a Cidade do Poder, os homens poderosos pensavam um meio de dominar as criaturas mais fracas. Se reuniram num grande conselho com as mentes mais brilhantes e chegaram à conclusão que, por serem minoria, este domínio era frágil. Os dominados poderiam se rebelar, e com muita facilidade, tomar o poder. Então perceberam que teriam que controlar as mentes dos dominados, a fim de que, não pensando, não dessem conta da realidade à sua volta.

Era necessária a criação de um sistema onde pudessem manter sua posição de controle e onde os escravos pudessem se manter na condição de escravos, porém, sem perceber que eram escravos. Convocaram um grande concílio na Cidade do Poder com as mentes mais brilhantes de toda Dominante.

Então, Tiberius, um líder de grande inteligência levantou a questão:

- Ora, oque caracteriza a condição de um escravo é a escolha. Precisamos fazer com que acreditem que tem escolha, que podem decidir suas vidas e que são Dominantes.

- Como? Serão? Não podemos abrir mão do poder e dar a eles a cidadania Dominante. Perderíamos o poder.

- Não daremos, de fato. Mas eles acreditarão que a tem.

- E como funcionará isto?

- Vamos instituir um falso sistema de governo, onde eles pensarão que tem poder de decisão. Pensarão que fazem parte dela. Pensarão que o sistema foi criado para o bem deles, e desejarão mantê-lo. Daremos a eles um falso direito de escolha.

- Como?

- Através de votação, eles pensarão que podem decidir o mundo a seu redor. Mas temos que apresentar isto de uma maneira atraente. Eles precisam acreditar que seu voto pode gerar um mundo justo, igual e livre. Assim manteremos o poder. E enquanto eles estiverem preocupados em eleger representantes, estaremos seguros.

- Mas eles não poderão de fato eleger seus representantes? Não poderão de fato escolher pessoas que pensem como eles e façam oque eles realmente querem?- perguntou uma mente brilhante e mais cautelosa.

- Poderão, e isto será necessário, para manter a ilusão de que o sistema funciona.

- Bom, e se eles elegerem muitas pessoas que os representem, isto será um problema para nós.
- Temos que criar grupos para estes representantes, para que o sistema não se volte contra nós. O sistema é criado por nós e para nosso domínio, mas eles precisam acreditar que é para manter a ordem e a decência e para o bem coletivo. Com os grupos poderemos neutralizar toda a atividade libertária. Para fazer qualquer reivindicação será necessário fazê-lo através dos nossos meios, das nossas leis, da nossa autorização. Assim impossibilitamos qualquer possibilidade de rebelião. Se alguém quiser ficar contra nós, precisará da nossa permissão. Se eles quiserem se rebelar, precisarão pedir permissão.

- E quem nos representará abertamente?

- Não será necessário: o sistema representa nossa vontade.
- Eles nunca acreditarão nisto - falou Scárnius, mente brilhante e respeitado por todos.

- Então precisamos ocupar as mentes deles para que não tenham tempo de pensar. Sugestões?

- Vamos sobrecarregá-los de trabalho.- disse um.

- Sim, mas não é suficiente. A exploração gera revolta. Sobrecarregar é uma boa maneira, mas precisamos de mais elementos.

- Vamos criar uma infinidade de impostos para que paguem. eles precisam acreditar que "pagar impostos " é oque os torna cidadãos.

- Eles nunca acreditarão nisto.- repetiu a mente poderosa escarnecedora. Então eles acreditariam que escravidão dos impostos os torna homens livres, cidadãos de Dominantes?
- Sim, e acreditando nisso, trabalharão mais voluntariamente para pagar seus impostos e sobreviver. Não será necessário o chicote. Porque o imposto é para manter a estrutura que ele pensa que o representa. Mas todos nós sabemos que o imposto serve para manter a estrutura que os escraviza, ou seja: nós. É uma outra forma de escravidão, abram suas mentes. Não podemos mantê-los debaixo do chicote por toda a eternidade.

- Eles nunca acreditarão nisto.- Disse Scárnius.

- Sugestões?

- Ainda é um sistema frágil. Precisamos de uma escravidão subjetiva, algo que escravize suas mentes cansadas e revoltadas. Precisamos arrancar os olhos deles!

- Está louco? De que serve um escravo cego? O problema não são os olhos, mas o cérebro. Ainda não criamos um sistema para impedir o pensamento. Ó, sábios: Sugestões?

- Precisamos fazer com que o tempo livre deles seja reduzido. Eles precisarão acreditar que precisam estar ocupados. Precisamos fazer com que acreditem que o ócio é um mal a ser extirpado, que o ócio é qualidade de bandidos, marginais.

- Eles nunca acreditarão nisso.- Scárnius olhava para o alto e já começava a perder a paciência.

- Ele está correto. Nunca acreditarão. Não vai funcionar.

- Então precisamos criar necessidades que os mantenham ocupados com oque não é trabalho. Assim, manterão suas mentes ocupadas em tempo integral, estarão cansados e ocupados demais e não terão tempo para questionamentos.
- Mas se eles não se sentirem livres de verdade não funcionará.- esbravejou Scárnius.
 
- Então daremos crédito  para eles comprarem coisas que não podem ter com o dinheiro que nunca terão. Ficarão endividados facilmente. Alguns perderão até o sono por conta das dívidas.
 
- Isto parece bom. - Scárnius começava a comtemplar uma luz no fim do túnel.
 
- Então vejamos: (um) vamos instituir um sistema de escolhas para manter a ilusão, precisamos de grupos de representantes do povo e precisamos fazer com que acreditem que precisem manter o sistema através de tributos;  (dois) vamos aumentar os impostos; (três) aumentar a jornada de trabalho; (quatro) criar necessidades para o horário de lazer para que fiquem com a mente escravizada; (cinco) criar dívidas para que se sujeitem á escravidão do trabalho.
 
- Precisamos de festas populares, para dar a eles a ilusão de que há algo a festejar.
 
- Grandioso!- os olhos reptilianos de Tiberius faiscaram.
 
- Não sei.- poderou Scarnius - A mente deles ainda não estará totalmente dominada. Precisamos de um agente infiltrado na casa deles para que determine oque eles devem pensar. Precisamos de um projeto de condicionamento para gerar torpor e dificuldade de concentração. Precisamos gerar um escape diário, satisfação. Um sistema que destrua a capacidade de raciocínio, e o senso crítico. Algo que os deixe abobados.
 
- Fármacos, há algum remédio ou poção mágica para isto?
 
- Não, Tiberius, não há poção que possua este efeito. Posso proporcionar apenas torpor, ou dificuldades de concentração. Posso criar um condicionamento à poção, e o escape diário por meio de alucinações derivadas das poções mágicas.
 
- Senhor, ouvi falar nas minhas andanças, num planeta da uma outra dimensão onde existe uma caixa mágica programada para todas estas coisas.
 
- Como assim, Genius?
 
- Não sei como funciona, senhor, mas funciona. Não deve ser complicada, mas a viagem interdimensional é muito cara. Posso trazer algumas, estudá-las e depois podemos produzir outras. As civilizações interdimenionais inferiores produzem este tipo de material para alienação da massa e tem tido resultado muito positivo a curto, médio e longo prazo. O nível de bestialidade a que chegou a massa é fantástico.
 
- Que acha, Scarnius?
 
- Liberem a verba para a viagem. Isto funcionará.



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