"Ai dona fea! Foste-vos queixar
Que vos nunca louv'en meu trobar
Mais ora quero fazer un cantar
En que vos loarei toda via;
E vedes como vos quero loar:
Dona fea, velha e sandia!
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!
E pois havedes tan gran coraçon
Que vos eu loe en esta razon,
Vos quero já loar toda via;
E vedes qual será a loaçon:
Dona fea, velha e sandia!
Dona fea, nunca vos eu loei
En meu trobar, pero muito trobei;
Mais ora já en bom cantar farei
En que vos loarei toda via;
E direi-vos como vos loarei:
Dona fea, velha e sandia!"
Estava lendo um livro antigo com texto acima, de Joan Garcia de Guilhade, trovador português, e me lembrei de uma situação que passei certa vez com uma artista. Estava eu organizando uma exposição, onde tudo ia muito bem, obrigada.
Parti para uma nova etapa do projeto, e disse à artista que, sendo um novo projeto, haveriam novos custos, mas eu concederia isenção dos mesmos por conta das boas relações com a mesma. Para participar do evento, não seria necessário que ela enviasse nenhuma verba, mas tínhamos a pretensão de fazer um catálogo da exposição, e caso ela desejasse estar neste catálogo (o tão falado catálogo, que demorou tanto, que tem gente achando que é lenda urbana), isto geraria um custo, óbvio.
Foi o que bastou para um chiliquinho.
A artista afirmava estar "desencantada" e que achava "um exagero". Note: eu a havia isentado da taxa de inscrição do evento. Apenas o catálogo seria pago, porque a tiragem seria grande e ainda haviam os custos de distribuição.
Assim, ela mencionou que não participaria do novo evento por este motivo.
Você, leitor, deve estar aí, pensando. Com esta atitude toda, a artista superestrela deve ter anos de carreira e muito reconhecimento.
Seria Beatriz Milhazes?
Luise Weiss ?
Tomie Ohtake?
Mão não é nenhuma destas grandes artistas. Na verdade, ela fez sua primeira exposição, coletiva, a uns sete anos. Não, não tem nenhuma individual no curriculum. Mas, recentemente, esbarrei com uma entrevista dela a ela mesma(???) numa rede social, onde afirmava ser narcisista ao extremo, gostar de todas as suas próprias idéias (afinal, são dela) e sem modéstia, declarou: "sou o MÀXIMO."
Por estas coisas, lembrei do trovador português, e faço minha as palavras dele:
"Dona fea, velha e sandia!"
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